Sensação de não pertencimento

Não sei exatamente como começou, mas acredito que foi desde quando eu me mudei para o interior de São Paulo, aos 11 anos. Acho que pelos últimos posts, deu a entender que faz pouco tempo que mudei, mas já faz 22 anos.

Desde que me mudei, eu sempre fiquei com a ideia — um pouco inconsciente — de que aquilo era temporário, que eu voltaria para minha cidade natal (SBC). Toda vez que eu viajava para visitar a família, eu não queria voltar para trás, porque ali sim era o meu lugar.

Então, em 2013, fui morar em SBC e comecei um curso gratuito (muito superior aos que fiz no interior). Eu pegava ônibus para distribuir currículos e refazia todos os caminhos que eu costumava fazer na minha infância. A sensação era de liberdade.

Ao mesmo tempo, foi frustrante perceber como tudo havia mudado. Havia poucos conterrâneos morando ali (a maioria foi se mudando para lugares mais calmos), e de certa forma, a cultura e energia da cidade parecia ser outra. Tudo estava diferente e não sabia mais onde me encaixar. Voltei para a casa dos meus pais meses depois e me senti ainda mais perdida, porque que tudo aquilo que eu idealizei, não existia mais. Já viajei e conheci MUITAS cidades do interior de São Paulo, mas não consigo me encaixar, não consigo me ver como sendo parte daquilo. Mas também não sei para onde ir.

Apesar de já ter feito minha cidadania portuguesa, eu nunca quis sair do meu país. Não gosto de viajar. Qualquer coisa que fuja da minha rotininha me estressa. Mas essa semana comecei a repensar muita coisa. Veja bem, eu nem uso mais o Twitter (me recuso a chamar de X), mas desde que essa rede saiu do ar me deu um estalo que desencadeou outras preocupações.

A instabilidade do Brasil (não poder fazer planos para daqui a 5 anos porque nunca sabemos o que o desgoverno poderá fazer). 

A cultura do barulho. Ter animaizinhos de estimação é legal. Mas ter, tipo, 5 cachorros latindo descontroladamente num domingo à tarde, será mesmo que a pessoa não percebe que está incomodando? Crianças mal-educadas gritando em lugares públicos. Você está num hospital, num banco, num supermercado, as pessoas estão sempre falando alto. Celular com música e vídeos em volume alto.

Pessoas invasivas. No hospital, minha mãe dividiu o leito com outra pessoa que insistiu por dias seguidos querendo número de celular e marcar de se encontrar. Estávamos ali apenas por necessidade. Ficamos impressionadas que ela tem exatamente o mesmo jeito de tantas outras que conhecemos. Mesmo com sinais sutis em forma de educação que não queremos amizade, elas não são capazes de entender.

Você se senta num banco enquanto espera, numa fila, e as pessoas ao redor começam a te perguntar sobre sua vida. Querem mostrar foto de netos pelo celular. Eu nem te conheço, para que raios eu iria querer ver fotos de sua família?! Isso não é nem questão de introversão, eu acho que isso é de certa forma uma falta de educação.

Todo mundo se acha "o" mais intelectual, o verdadeiro conhecedor de tudo. Não se pode dar uma opinião sobre um filme sem ser confrontado.

"Loucura generalizada" e violência. Isso é o que mais me preocupa. Não sei se é devido ao tempo excessivo em redes sociais, mas todo mundo precisa se defender a qualquer custo, mesmo que ninguém tenha atacado. Nem está acontecendo nada, há bastante comida disponível. Mas imagine uma catástrofe mediana o que não poderia desencadear? Não é possível atravessar uma praça sem ser abordada por drogados pedindo 'pix'.

Isso não é um país para envelhecer. Comecei a me perguntar se aqui é mesmo meu lugar.

Agora que estou fazendo uma transição de carreira, estou fazendo uma grande limpeza nos meus arquivos digitais. Enquanto olhava os layouts antigos que fiz para meus primeiros blogs, me peguei com sorriso no rosto. Senti um conforto muito grande que a princípio não soube explicar. Acho que de alguma maneira, a criação de cada um daqueles designs era uma maneira de criar uma realidade paralela, são espaços virtuais pessoais que sempre me deram forças para enfrentar o caos externo.

Esses últimos meses, durante minhas corridas matinais, eu estava me perguntando qual é o meu maior sonho. Acho que todas as pequenas conquistas que desejo, o maior e mais verdadeiro no momento é encontrar o meu verdadeiro lugar no mundo. Algum lugar que eu possa me sentir verdadeiramente em casa seja onde for 

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Comentários

  1. Ah eu gosto disso de fazer amizades, de poder conversar com estranhos. Não acho que seja invasivo, eu quero sim ver a foto do neto de uma senhora desconhecida. A gente pode se surpreender com as pessoas que a gente menos espera. Acho falta de educação quem não dá atenção para essas pessoas sabe. A gente pode fazer muita diferença na vida delas com tão pouco... É até por isso que eu acredito que o mundo está como está. Porque as pessoas não querem conhecer novas pessoas, não querem fazer novas amizades, independente do ambiente.
    Enfim até ia comentar sobre a questão do pertencimento, mas isso me pegou bastante :(

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    1. Olá, Valéria!
      Menina, jura?! Eu adorei saber disso porque realmente me pergunto se o problema sou eu. Tenho investigado para saber sobre a personalidade das pessoas dos outros países e descobri que eles são mais próximos de como eu sou rsrs. Sou uma introvertida ao extremo :/ Mas é claro que dou atenção quando alguém fala comigo, concordo que seria falta de educação desprezá-los.
      Beijos!

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  2. Oie Jessica!
    Você mudou o banner do layout, né? Não sei se faz tempo, desculpa, mas gostei das florzinhas!

    Me identifico muito com isso. Eu pensei assim que li seu post que a impressão de que vc se mudou faz pouco tempo poderia ter haver com não se sentir pertencente ali, e foi bem isso que você disse né? hahaha! Eu me senti assim quando estudei no interior - eu sentia falta de SP quando morava em Assis, e quando voltei pra cá senti falta de lá. Hoje eu moro na capital, mas moro sozinha, curiosamente no bairro em que morei quando criança. Que mudou completamente também, mas agora é o meu espaço, não o da família. Ter as minhas coisas, decorar a minha casa, me traz essa sensação de que é meu canto, sabe? Acho que concordo com o final do seu post, pensando que a gente se sente pertencente quando a gente está onde quer e está bem consigo mesma, por dentro.

    Fiquei curiosa com os layouts antigos, queria ver :> hahaha!

    Obrigada pelos comentários no Hishoku e desculpa o sumiço! Beijinhos :*

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    1. Olá, Shana!
      Faz um tempinho que mudei o layout, mas já estou querendo mudar de novo rs.
      Conheço Assis, já fui lá uma ou duas vezes. Eu te entendo. No meu caso eu me sinto bem em casa (moro com meus pais e temos uma boa relação com eles), mas não na(s) cidade(s) haha'.
      Beijos! :*

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